Egressa do instituto atua no repasse de saberes para que o bordado não desapareça em Alagoas
Elaine Rodrigues – jornalista
O artesanato e a delicadeza do bordado singeleza foram levados pelo Instituto Federal de Alagoas (Ifal) à 10ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas. Na noite da última quarta-feira (16) a coordenação do curso técnico de Artesanato, do Campus Maceió, promoveu oficina gratuita para ensinar o bordado aos visitantes do evento literário.
A coordenadora do curso, Juliana Aguiar, contou que a renda quase desapareceu em Alagoas. Então, a professora Josemary Ferrare da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), desenvolveu um trabalho com dona Marinita, de Marechal Deodoro, que era a única artesã que detinha o conhecimento para fazer a renda.
“A singeleza é um patrimônio imaterial do estado de Alagoas e hoje a gente está na luta para que ela seja um patrimônio nacional. A partir desse movimento, a gente descobriu outros núcleos no estado, além de Marechal, tem Água Branca, Maceió e Paripueira”, explicou Juliana Aguiar.
Linha e agulha e tradição
A professora Josemary promoveu várias oficinas para que a renda singeleza não acabasse e uma delas teve a participação da egressa do curso de Artesanato do Ifal, Valéria Santos, que ministrou a oficina realizada na Bienal.
Valéria, moradora do bairro Levada, em Maceió, explicou que é preciso ter paciência para fazer os bicos e as mandalas com o ponto singeleza. “Uma mandala leva cerca de uma hora. Mas eu passei um mês para fazer um chale, cheio de mandalas. É um trabalho bem delicado”, contou enquanto explicava o ponto aos novos alunos.
A família de Valéria Santos é cheia de artesãos. “Minha bisavó fazia renda de bilro e a minha avó era bordadeira. Meu tio fazia crochê, a prima também”. E é assim com muitos que passam pelo curso técnico de Artesanato, como Humberto Gomez, filezeiro do Pontal da Barra.
“Eu aprendi com a minha mãe. Comecei fazendo o tear para ela, mas todo dia vendo, aí você aprende. Hoje eu estou ressignificando o filé”, destacou Humberto, ao explicar que o artesanato criado por ele é um produto autoral que já foi para Londres, França, Suíça, Estados Unidos e Canadá.
A família toda de Humberto trabalha com o filé. E agora, cursando Artesanato no Ifal, ele vem se reorganizando na profissão. “Eles me dão todo o suporte. Eu já estou diferente e já comecei a escrever meu livro, com orientação de um dos professores. Meu pai era músico, trompetista da região de Marechal Deodoro e minha do Pontal da Barra”, revelou Humberto, que também fez o curso técnico de Edificações na instituição.
Curso técnico de Artesanato
O curso técnico de Artesanato do Ifal é voltado para jovens e adultos com mais de 18 anos, que são artesãos. “Ele aprende a valorizar sua peça pela cultura alagoana. Ele começa a criar peças a partir da sua história, do seu contexto social, do seu cotidiano. Ele começa a inserir esses elementos e as peças passam a ser únicas”, ressaltou a coordenadora Juliana Aguiar.
Nas salas de aulas estão artesãos que dominam a técnica do filé, do bordado, do crochê, do fuxico, entre outras modalidades de artesanato. Entre as disciplinas, estão atividades voltadas para o ensino do empreendedorismo, características dos materiais, marketing e venda. O curso é técnico integrado ao ensino médio, gratuito e possui duração de três anos. São duas turmas e a entrada é a cada 18 meses, por meio de edital publicado pelo Ifal, Campus Maceió.
Ifal na Bienal
O Ifal está com atividades diárias durante a 10ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, que é realizada no Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso, no bairro de Jaraguá, em Maceió. A entrada é gratuita e o evento é aberto das 10h às 22h, até domingo, dia 20 de agosto. Acompanhe as novidades no site e também nas redes sociais: @bienaldealagoas no Threads, Instagram e Facebook. As fotos oficiais podem ser vistas no Flickr.