Narrações também promovem a aproximação entre escritores e crianças, auxiliando no processo criativo
Sandra Peixoto – jornalista com fotos de Mitchel Leonardo
Do leitor voraz aos mais, digamos, comedidos, é senso comum que um bom livro transforma vidas. Aventura, romance, ficção, ciência, pesquisa acadêmica… Independentemente da área ou do tema, muitas ideias saem das páginas e se concretizam na vida das pessoas, seja enquanto seres individuais ou atores sociais. Por isso, torna-se relevante pensar a formação de novos leitores. Neste contexto, a 10ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas traz, em sua programação, diversos momentos de contações de histórias.
Um deles aconteceu na última quinta-feira (17) com o Conto das Águas, de autoria da professora de teatro Meire Deise, da Secretaria Municipal de Educação (Semed). Crescendo entre as águas e o Mirante da Sereia do bairro de Riacho Doce, em Maceió, ela é neta de pescador e teve, durante a infância e a adolescência, bons momentos de contações de história organizados por sua avó.
“Essas histórias de mar, de pescador e de sereia fazem parte do meu imaginário. Meu avô era pescador e minha avó era uma contadora de história nata. O Contos das Águas surgiu, justamente, dessas memórias do meu avô pescando, das histórias de sereia que ele contava”, lembrou.
Para ela, crescer em meio a essas referências influenciou sua formação na área da educação e como contadora de história, profissão que abraça na certeza de que irá contribuir para formar novos leitores, pois as histórias contadas alcançam todos que a ouvem, não dependendo de o ouvinte ter ou não o livro.
“Durante muito tempo, em nosso país, a gente sabe que a literatura foi elitizada. Só quem tinha um poder aquisitivo conseguia comprar um livro. Mas, depois desse processo de levar o livro para a escola, de fazer mediação e contar histórias, as pessoas sem acesso a livros passaram a compreender que isso também é para elas”, avaliou Meire, ao relembrar que ela é uma dessas pessoas.
E ela disse mais: “Como não tinha dinheiro para comprar livro, minha avó inventava e contava histórias. Ela mal sabia escrever, mas pegava os netos todinhos, botava na sala e contava a história dela. E aquilo dali me deixava encantada. Quando eu cresci eu disse: quero levar o que a minha avó me contou para alguém’, complementou Deise.
A professora vem conseguindo: o Contos das Águas teve origem a partir de um convite, este ano, para representar Alagoas no Festival Baiano de Cultura e História, em Salvador, e também já escreveu outros espetáculos inspirados com a temática da avó. Assim, percebeu que poderia juntar teatro, contação de história e literatura, tornando-se uma contadora de histórias que ama literatura e que incentiva a leitura.
“Cada vez que eu me apresento, percebo o quanto é importantíssimo, porque é a porta que se abre para a criança, para o adolescente, para o adulto. Projetos como a Bienal e de incentivo à leitura nas escolas estão dando, cada vez mais, uma oportunidade para as crianças pertencerem a esse universo e verem que o livro é seu melhor amigo. E de repente, assim como meus avós influenciaram, eu posso influenciar alguém, multiplicando essa semente que não ficou só na sua forma”, defendeu.
Novos Escritores
A escritora Fernanda Marsico também é contadora de histórias. Para ela, que atuava como educadora, estar junto às crianças, conhecer seus gostos e ouvir o que elas têm a dizer é parte importante do processo criativo do escritor de literatura infanto-juvenil.
Com a bagagem de quem sabe o quão importante é acreditar nos próprios sonhos, Fernanda Marsico não se limitou a escrever e contar histórias de seus livros. Ela desenvolve, também, uma consultoria on-line de Escrita Criativa e Autopublicação.
O projeto surgiu a partir de uma percepção de mercado de quando lançou seu primeiro livro, o Corre Corre e Voa Voa, em dezembro de 2019. Como o trabalho de divulgação presencial precisou ser paralisado em decorrência da pandemia da covid-19, a escritora recorreu às redes sociais.
“Fazendo esse trabalho pela internet, muitas pessoas que têm esse sonho e querem publicar o livro passaram a me procurar para que eu lesse suas histórias para ver se estavam boas. Então eu abri a consultoria para isso, para poder dar essa atenção a quem me procura. Eu consigo ler a história, ajudar a trabalhar bem o texto e dar a direção para a publicação independente”, afirmou Fernanda.
Esse primeiro passo como autor independente mostra-se como estratégico porque, em sua opinião, as editoras não costumam receber escritores iniciantes, optando por apostar em livros que já estão fazendo sucesso. “Quando eu comecei minha carreira como escritora independente, deu super certo; está dando super certo, graças a Deus. Por isso oriento os outros escritores que também estão querendo começar a tirar as histórias das gavetas”, explicou.
Fernanda Marsico lançou seu quinto livro, A Princesa Tristonha, na Bienal alagoana e, mês que vem, participará da Bienal do Livro Rio 2023. Em menos de dois anos publicou Corre-Corre e Voa-Voa, A menina que gostava de inventar, Um Verdadeiro Tesouro e Cuidado com a Cuca. Agora, prepara-se para lançar a primeira obra voltada ao público pré-adolescente.
Sobre a Bienal
A Bienal do Livro de Alagoas tem entrada franca e segue com programação variada até o dia 20 no Centro de Convenções de Maceió. Confira as novidades do evento no site e também pelas redes sociais: @bienaldealagoas no Threads, Instagram e no Facebook. As fotos oficiais do evento podem ser vistas pelo perfil do Flickr.