Imprensa Oficial Graciliano Ramos apresenta a coleção completa do autor considerado genial pelos leitores e críticos
Clarice Maia – jornalista com fotos de Fabiana Santos
Um cérebro pouco convencional, um homem que desperta amor e ódio e que foi ao subterrâneo do inconsciente coletivo. Assim, José Geraldo Marques descreve o escritor alagoano Breno Accioly. Autor de sete livros, sendo cinco de contos e dois romances, Bruno converge temas que versam sobre a miséria da condição humana, a loucura e os sórdidos sentimentos, com uma narrativa classificada como genial.
A coleção completa do autor, lançada pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos, está disponível no estande do órgão durante a 10ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, que acontece até o próximo domingo, dia 20. Nascido em Santana do Ipanema, em 1921, Breno chegou a morar em Recife, mas estudou Medicina na cidade do Rio de Janeiro, onde se afirmou como médico leprólogo e escritor. Morreu de modo prematuro, aos 44 anos, deixando uma obra consistente.
Segundo o professor Márcio Ferreira, o escritor tratava da negatividade de uma sociedade à beira do caos. Ele fala sobre as influências de uma espécie de estética da violência, presente desde a geração de 1945 na literatura, mapeando termos como: torpe, diligência, agressão, enjeitado. E afirma, sobre a busca que o autor tinha de ser publicado: “A literatura salva Breno, capta, salva, coloca no mundo”, contou.
A escritora Heloisa de Moraes disse que, ao ler Breno Accioly pela primeira vez, ficou chocada com a narrativa e, por ser apaixonada pelas palavras, se colocou a observar um grupo específico de termos que o autor sempre repete. A partir daí, considerando as diferenças entre campo lexical e campo gramatical, passou a analisar a utilização da tristeza com suas variações e raízes.
Ao narrar histórias da cidade de Santana do Ipanema, o professor José Geraldo Marques fala sobre como esteve presente na vida pessoal, assim como na obra do autor, o limite entre uma mente mutilada e a loucura, um “limite extremante tênue”. Fala sobre a importância dos alagoanos conhecerem a obra do escritor, que pode despertar amor e ódio, mas precisa ser compreendida.
Livros
O primeiro livro publicado por Breno, em 1944, com apenas 23 anos, é considerado sua obra prima. Com João Urso ganhou dois importantes prêmios literários da época: o Afonso Arinos, oferecido pela Academia Brasileira de Letras, e o Graça Aranha, oferecido pela Fundação Graça Aranha – conquistando sucesso nacional, de público e da crítica. Cogumelos é o segundo livro do autor, de 1947. Trata-se de uma reunião de contos em que ele inova na forma de breves narrativas, mas com uma investigação profunda da miséria da condição humana, baseada na inveja, no rancor e na obsessão.
O livro Dunas, de 1955, marca a entrada do autor como romancista. Nele, Breno Accioly apresenta um enredo que se passa em Santana do Ipanema. A partir da narrativa poética, apresenta perdas, tragédias em personagens reféns das exigências psicológicas ou sociais da realidade imediata. Mantendo o uso do grotesco e do ridículo, Breno escreve Maria Pudim, também de 1955. Em um cenário fora do sertão alagoano, mantendo o mesmo clima sinistro, dolorido e perverso descrito em João Urso e Cogumelos.
O livro Os Cataventos, de 1962, ficou marcado como o último livro de contos publicado em vida pelo autor. Reúne 30 textos em que a temática da traição e da violência são recorrentes. As duas obras inéditas que serão lançadas são: Isabela, de 1962, e Pedras, de 1966. O primeiro é um livro que reúne 31 contos, iniciado quatro anos antes de morrer, escrito simultaneamente com Os Cataventos, e com Pedras, seu último romance. O segundo apresenta uma narrativa em primeira pessoa, tendo como pano de fundo os conflitos sociais de uma comunidade periférica da capital alagoana, da década de 1960.