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Crianças dão vozes ao racismo em roda de conversa sobre o tema na Bienal

Alice, Dandara, Ilda Cecilia, Jheneffer e Alexsandro são as vozes protagonistas no combate ao racismo no evento

Janaina Farias – jornalista com fotos de Mitchel Leonardo

Cinco crianças dão vozes à roda de conversa sobre racismo

Uma mesa representada por crianças falando de racismo, tanto para os pequenos quanto para os adultos. Assim foi o encontro delas na Roda de Conversa sobre Crianças e Infâncias Invisíveis nesta quarta-feira (16), na Bienal Internacional do Livro de Alagoas com Alice, Dandara, Ilda Cecilia, Jheneffer e Alexsandro. A mesa foi mediada pela presidente do Observatório Estadual de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial, Arísia Barros.

Arísia explicou que a mesa buscou discutir questões da infância de crianças invisíveis que, segundo ela, são aquelas que estão na escola e que fazem parte de uma religião de matriz africana, por exemplo. “São crianças quilombolas, crianças que são invisíveis socialmente. Quando o racismo é internalizado, entra no processo e constrange a vida dessas crianças”, disse.

A mesa contou com crianças de matriz africana, de terreiro e quilombola, e chamou atenção para Alice, uma das integrantes da roda de conversa, pelo fato de ela não se perceber branca.

“Alice tem pele clara, mas não se diz branca. Alice que é de classe média, estuda no colégio Santa Úrsula e discute junto conosco a questão do racismo. Resolvemos trazer Alice para a mesa para fazer esse contraponto, contribuindo com o evento, em dar vozes as crianças e palco para elas soltarem suas vozes dentro de uma Bienal. Não é só pintar, não é só ler história e, sim, discutir também”, disse ela.

Arísia enfatizou o contraponto, ao afirmar que o racismo precisa ser trabalhado com brancos e não com pretos. “A gente não trabalha a questão do racismo com pretos e pretas porque o racismo não é problema de pretos e pretas, é problema de brancos, é o branco quem cria. Nossa intenção é criar uma rede de crianças que discutem sobre o racismo. A gente não tem isso. As crianças ouvem falar do racismo ou quando sentem na pele ou quando as escolas acham que é o mês para falar. O combate ao racismo é uma coisa constante”, refletiu.

Participaram da mesa de conversa estudantes do município de Teotônio Vilela e de escolas privadas como o Colégio Santa Úrsula, além do público em geral. A estudante do Santa Úrsula, Sofia Brandão, disse que é importante aprender e está por dentro desse assunto. Segundo ela, a temática não é abordada de forma correta.

A jornalista Arísia Barros

“Sempre é bom a gente estar por dentro desse assunto, porque, infelizmente, ainda hoje, é uma temática que não é abordada de forma correta. É importante abolir falas preconceituosas e quebrar esses tabus. As pessoas precisam de respeito”, salientou a aluna.

Falando por experiência própria, a integrante da roda de conversa, Ilda Cecilia, de apenas 9 anos, trouxe ao público uma mensagem de combate à intolerância religiosa: “A intolerância religiosa tem que acabar, tem que acabar o preconceito nas escolas. Muitos colegas falam porque meu pai é negro, é da religião, somos todos da religião, dizem que meu pai é um macaco. [Ficam] Dizendo que a gente vai fazer macumba. Eu fico triste porque sei que meu pai não é nada disso. Tudo que a gente quer é respeito”, lamentou a menina.

A mãe da menina Ilda Cecília completou: “A gente só quer o respeito. A gente quer passar com nossa roupa branca, com o nosso turbante na cabeça sem que ninguém reclame, ou diga, ‘tá repreendido’. A gente não cultua o Satanás. A gente não cultua eles, a gente precisa de paz, de amor ao próximo, estamos precisando mais de respeito, de atenção”, concluiu.

Tradução em Língua Brasileira de Sinais

Inovando em diversos aspectos, a mesa que reuniu crianças falando sobre racismo também contou com a tradução de Língua Brasileira de Sinais (Libras) realizadas por profissionais da rede municipal de educação de Maceió. A técnica da formação, Ednilza Cabral, explicou que o momento merecia essa tradução.

Mesa contou com tradução em Libras

“Pela importância da diversidade, temos alunos com essas necessidades. É essencial que a língua de sinais seja oficializada dentro do contexto escolar. E nada como fazer isso hoje, a partir de um grupo de estudantes”, disse ela.

Segundo a técnica, vem crescendo a cada ano o número de alunos que necessita dessa atenção especial. “A língua de sinais se faz necessária para além dos alunos que têm a necessidade dela”, contou a técnica ao relatar que a rede municipal de educação tem dado apoio ao Observatório Estadual de Políticas para Promoção da Igualdade Racial.

Desvendando o racismo a partir do Letramento Racial

Na última segunda-feira (14), na sala Ipioca, foi realizada, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, a palestra: Desvendando o racismo a partir do Letramento Racial, uma proposta para ampliar a temática para dentro do contexto curricular.

Ednilza explicou que a rede busca uma educação antirracista e por isso visa trabalhar no contexto curricular. “Sabemos que o racismo é negado constantemente. E a escola é um espaço onde o racismo acontece. Há uma negação daquilo que é real. Então as pessoas começam a achar que as brincadeiras estereotipadas são coisas naturais e não são. A rede já iniciou esse trabalho de combate ao racismo junto às escolas”, afirmou.

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