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Em palestra na Bienal, Kabengele Munanga afirma que racismo mata duas vezes

Antropólogo refletiu sobre a discriminação racial e falou sobre como a educação pode contribuir no combate ao crime

Elaine Rodrigues – jornalista com fotos de Renner Boldrino

O antropólogo e professor Kabengele Munanga em palestra na Bienal de Alagoas

Um auditório lotado no Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso recebeu o antropólogo e professor Kabengele Munanga, que retornou a Maceió para participar da 10ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas. Em sua palestra, que contou com a mediação do professor aposentado da Ufal, Zezito Araújo, Munanga afirmou que o racismo brasileiro é um crime perfeito que, na segunda vez, mata pelo silêncio. “Mata, ao mesmo tempo, a consciência das vítimas e das pessoas discriminadoras”, completou.

O professor, que chegou a ser homenageado com a Comenda Zumbi dos Palmares, em Alagoas, é conhecido pela sua contribuição à história, à educação e, principalmente, ao combate ao racismo e à educação antirracista. Para Munanga, um dos problemas atuais é a falta de conhecimento sobre o racismo.

“As pessoas negras, ou seja, pretas e pardas, podem sofrer discriminação racial sem perceber. Às vezes, pessoas brancas podem discriminar pessoas negras, sem ter a consciência de ter praticado uma discriminação racial. E quando as vítimas reagem, elas dizem que são complexadas ou fazem discurso de vitimização, pois o problema está em suas cabeças”, apontou.

Nesse caso, as leis não resolvem porque não atingem o terreno dos preconceitos. As leis só lidam com os comportamentos discriminatório que são observáveis. E ainda, de acordo com o professor, a educação é uma forma de combater o racismo, mas ela começa no lar, antes da escola.

“Muitos pais não falam de racismo com seus filhos, em família […] E quando a criança sai de sua família, para iniciar sua formação escolar primária, onde se forma a cidadania, ela encontra, ora o silêncio por parte dos professores, ou quando termina a sua alfabetização e começa a ler, ela se depara com livros de conteúdos preconceituosos e racistas”, lamentou Kabengele Munanga.

Da retórica à ação transformadora

Para construir um modelo de democracia que respeite a diversidade e as diferenças da população, Kabengele Munanga ressaltou que os caminhos são três: leis que funcionem, educação e políticas públicas. “Tudo articulado em torno de um projeto político de mudanças e transformações profundas da sociedade”, refletiu o professor.

Nesse sentido, as políticas de ingresso por cotas em instituições de ensino e as leis nº 10.639/03 e nº 11.645/08 (que determinam a obrigatoriedade do ensino da História e cultura africana e afro-brasileira no currículo escolar) contribuem para combater o racismo, mas é necessário ir além do antirracismo e participar das ações de combate.

“Hoje, em qualquer lugar, se fala do racismo. Essa consciência está crescendo e dessa consciência que vai nascer a verdadeira luta contra o racismo, mobilizando toda a população brasileira. Eu costumo dizer que o racismo não é um problema do negro, é um problema da sociedade brasileira”, destacou Munanga.

Sobre a Bienal

A Bienal Internacional do Livro de Alagoas é realizada no Centro Cultural e de Convenções Ruth Carvalho, até o dia 20 de agosto, das 10h às 22h. Todas as informações sobre a Bienal estão disponíveis no site e também nas redes sociais: @bienaldealagoas no ThreadsInstagram e no Facebook. As fotos oficiais do evento podem ser vistas pelo perfil da Ufal do Flickr.

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