Ambientes como a Maloca, Árvore de Livros e Praça de Alimentação dividem espaço com muita cultura, poemas e entretenimento
Janaina Farias – jornalista com fotos de Mitchel Leonardo e Renner Boldrino
Pensando em proporcionar ao público um ambiente que tivesse bastante espaço, corredores abertos e ambientes coletivos, além de modernidade, tecnologia e literatura, a 10ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas 2023, tem chamado atenção com seu projeto arquitetônico.
Projetada pela arquiteta Mirna Porto, a estrutura que tem encantando todos os públicos despertou nas pessoas o interesse de conhecer de perto A Grande Maloca que está sendo disputada entre um visitante e outro por foto e vídeo. A estrutura tem 4 metros de altura e 6 metros de diâmetro, possui piso espelhado e é coberta por 2 mil revistas Graciliano cedidas pela Imprensa Oficial.
“Começamos a trabalhar o processo construtivo como se fosse a palha, armando revista por revista de baixo para cima. E a estrutura recebeu um tratamento estético na forma de montar as revistas frente e verso”, explicou a arquiteta ao dizer que isso também se classifica como uma homenagem ao poeta alagoano.
Segundo Mirna, a Maloca foi criada para ser interessante. “Eu já tinha tido experiência na construção de Maloca africana, na Serra da Barriga. Depois, fui a Parintins como cenógrafa, fazer estágio no Boi Bumbá, um ano depois que fui jurada do Festival de Parintins. Fiz então estágio no Boi Garantido, e eles me propuseram a construção de uma Maloca.
E ela diz mais: “Eu queria aprender a fazer construções indígenas porque na prospecção da Serra da Barriga sempre apareciam restos arqueológicos de muita coisa indígena, e eu sabia fazer coisas africanas e não sabia fazer coisas indígenas”, contou Mirna Porto.
Como surgiu a ideia da Maloca
“Eu fiquei com essa maloca na cabeça desde 2006, quando o tema do Boi Garantido foi Terra, a Grande Maloca. Esse conceito de que o planeta é uma casa, é uma grande maloca coletiva e que a gente deve cuidar e tratar enquanto houver o amanhã. Fiz questão de inserir o tema da sustentabilidade e trazer para Bienal”, explicou Mirna Porto.
Totalmente instagramável aliando história e modernidade a ideia principal, o importante do projeto, era, quando concretizado, ter o chão espelhado para que os visitantes da Bienal de Alagoas entrassem e se sentissem no centro da Terra.
“E essa é a surpresa. Essa brincadeira de que você tem que olhar o planeta como se fosse a sua Grande Maloca, a sua grande casa, a casa coletiva. Essa foi minha inspiração, e foi bem legal, porque eu queria fazer uma coisa que ficasse boa também na fotografia como ponto Instagramável, e isso está dando certo”, disse Porto.
Área de Alimentação com direito a poesia
Criar uma área de alimentação que fosse diferente das áreas de alimentação comuns onde pudesse associar um bom cardápio, poemas e ao mesmo divulgar tempo o homenageado desta edição da Bienal, o alagoano Jorge de Lima.
“A área de alimentação é nosso grande diferencial. A ideia foi criar um ambiente com sombreiros, que fizessem com que as pessoas sentadas pudessem ler poemas. Tenho essa paixão pelos sombreiros. Acho que são bem nativos, alagoanos. Eu queria uma forma de homenagear Jorge de Lima. E aí, a forma que achei foi fazer com que as pessoas alimentem -se com poesia”, disse ela.
Sombreiros versáteis e poéticos
O espaço onde estão os sombreiros possuem o piso branco, as mesas em preto e branco e no fundo dos sombreiros, letras de máquina de escrever antiga: “Os trechos dos poemas eu mesma escolhi, fiz a curadoria de trechos de poemas que tivessem alto astral e que, ao mesmo tempo, revelassem bastante características do Jorge Lima”, disse a arquiteta.
Mirna Porto explica que tudo isso só foi possível com o apoio da coordenadora do evento e responsável pela organização, a professora Sheila Maluf. “Ter uma coordenação como a da Sheila Maluf foi fundamental, porque ela tem sensibilidade e inteligência para compreender uma maloca, para compreender essas luminárias de LED, para compreender a árvore dos cordéis, para compreender uma praça de alimentação como essa que a gente fez, assim, superlimpa, mas cheia de poesia”, declarou.
A arquiteta também fez questão de ressaltar o trabalho da empresa Conexão, que é uma parceira de trabalho há mais de 30 anos. E quem circula pela Bienal deve ter percebido os lustres de LED florescentes uma estrutura área que tem chamado atenção. “A ideia era destacar a área onde tem a parte mais jovem da Bienal. É uma referência à turma jovem, que está muito ligada no florescente, no LED, no telefone, no computador”, disse.
Praça de Autógrafos Paraíso de Papel
O espaço para autógrafos foi projetado para proporcionar uma sensação de praça. São mesas acompanhadas de cadeiras puffs com bancos em formato de canoas para que as pessoas possam sentar enquanto esperam na fila para receber os autógrafos dos autores.
A árvore foi construída com estrutura em ferro e inspirada em uma amendoeira e foi feita com cerca de 3.800 capas de livrinhos de cordel reproduzidos. “Tiramos cópia de capas de livros de cordel para dar a sensação que são livrinhos, mas, de verdade, são só as capas. É como se fossem as folhas da árvore. E coloquei iluminação, para dar essa sensação de cena de pracinha de cidadezinha gostosa do interior, com essa árvore com carinha de amendoeira pequena, nascendo. Essa foi a ideia da praça dos autógrafos”, contou Mirna Porto.
A responsável pelo sucesso da estrutura arquitetônica explica que a inspiração é algo inesperado. “Inspiração é uma coisa assim, que a gente não sabe de onde vem. Eu procuro ser uma pessoa se vê no espaço projetado e o que eu acharia legal, diferente eu gosto de utilizar. Sempre gostei de objetos e elementos repetidos em outra função de vistos em outra circunstância, de outra maneira “, concluiu a arquiteta.