Mesa redonda “O Cangaço na Literatura” atraiu diferentes públicos que ouviram histórias desde antes de Lampião
Mariana Lima – jornalista com fotos de Renner Boldrino
O público presente no Auditório A da 10ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas na última segunda-feira (14) foi transportado para o alpendre de um sítio sertanejo ouvindo dois velhos amigos conversando. Ao menos essa foi a impressão depois de alguns minutos da mesa “O Cangaço na Literatura”, liderada por Frederico Pernambucano de Mello, maior nome acadêmico sobre o tema do Brasil, e Robério Santos, pesquisador e apresentador do canal no YouTube de mesmo nome da mesa.
Amigos reunidos pela pesquisa e interesse em comum – daí o uso do apelido Fred – o debate começou pela história de como Robério Santos se interessou pelo tema do cangaço, tomando contato através da leitura de “O Cabeleira” de Franklin Távora quando era adolescente e, já adulto, da visita aos Forte das Cinco Pontas no Recife, local onde o personagem real fora julgado e executado. A proximidade com algo tão real da história o moveu para suas pesquisas acadêmicas e de campo, documentadas em livros e no YouTube.
“Não acredito que o Cabeleira tenha sido um cangaceiro em si, até porque o Franklin Távora e a documentação da época o chamam de bandoleiro, salteador, outros termos. Os documentos contam uma história, mas a pesquisa de campo é imprescindível, porque ao andar nos mesmos lugares que Cabeleira passou, a Rua do Barracão, por Goiana, Paudalho e conversar com as pessoas você tem contato com a tradição oral e percebe como a história dele está viva, é contada de geração em geração nesses lugares”, pontuou Robério.
Fred ou professor Frederico Pernambucano seguiu dando sua contribuição ao tema com a história de como ele conquistou a confiança de Sebastião Sandes, membro da volante que emboscou e executou Lampião, Maria Bonita e seu grupo, e que viveu por muitos anos em Maceió. Após anos de conversa e insistência, Sandes recebeu um diagnóstico de aneurisma e decidiu que não podia levar essas informações ao túmulo. Ligou para Frederico, o chamou para um encontro e confiou os momentos finais do cangaceiro mais famoso do Brasil.
“O cangaço segue despertando uma miríade de sentimentos, é uma fonte sedutora do épico popular. A seu tempo, ele representou a tradição coletiva de insurgência social meta-racial na qual se tinha uma das poucas possibilidades de ascensão. E nessa história que lhes relatei, mostro como pode ser emocionante a vida da pesquisa, quando buscamos, insistimos, conversamos e finalmente nos damos de cara com a descoberta de tão preciosa informação, o relato em primeira mão, inédito, dos momentos finais de Lampião”, relatou Frederico.
Este relato conquistou a atenção e emoção dos presentes diante de algo tão precioso. No público, o reitor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Josealdo Tonholo, estava maravilhado diante de tantas descobertas.
“Estou tomando uma aula da história nordestina aqui, ver o Robério e o Frederico falando é um reposicionamento do que é a região Nordeste e especificamente nessa questão do cangaço. Além de contadores de história de primeiríssima linha, eles nos ajudam a entender a nordestinidade. Eu, que vim para Alagoas há 30 anos e não tive a oportunidade de ter a influência familiar do que é ser nordestino, estou saindo daqui hoje com uma pitada de nordestinidade injetada na veia”, compartilhou Tonholo.
Elogios à Bienal
Este não foi o primeiro momento em que Frederico Pernambucano de Mello emocionou o professor Tonholo. “Quero registrar aqui meu louvor à organização da Bienal de Alagoas. Quando cheguei, dei uma volta guiado pela professora Sheila Maluf e vi uma espontaneidade, as pessoas se relacionando com o espaço e os livros, uma alegria em fazer parte deste momento de leitura e cultura. Meus parabéns à organização, à Universidade e a todos envolvidos, mais uma vez deixou meu louvor à Bienal”, exaltou o convidado, que foi acompanhado por Robério Santos nos parabéns.
Diante de tais palavras, o reitor também não conteve a satisfação. “Me sinto muito feliz, porque Frederico é o maior especialista em cangaço do mundo e Robério vem da mídia, são pessoas que fazem a diferença no contexto cultural da Região Nordeste. Então receber desses dois um elogio em relação à Bienal é motivo de orgulho para o estado de Alagoas, motivo de orgulho para a nossa universidade com relação às coisas que estão acontecendo aqui agora, que é a gente alagoana buscando a cultura”, concluiu Tonholo.