Mesas sobre Transtorno do Espectro Autista e capacitação em manejo da crise psiquiátrica aconteceram neste domingo
Sandra Peixoto – jornalista com fotos de Mitchel Leonardo
No momento em que o movimento antimanicomial celebra, em Alagoas, o fechamento do Manicômio Judiciário ainda neste ano de 2023, sendo considerado um fato histórico rumo a um tratamento mais humanizado por retirar as pessoas internas da segregação e inseri-las na rede de atenção psicossocial, a temática da saúde mental foi pauta de duas mesas-redondas na programação deste domingo (20) na 10ª Internacional do Livro de Alagoas. A iniciativa foi pensada em parceria com a Superintendência de Ações e Projetos Estratégicos (Suape) da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau).
Com o objetivo de desconstruir antigas práticas, o curso de capacitação O manejo da crise psiquiátrica foi ministrado pela médica psiquiatra Tainá Carvalho e pelo enfermeiro especialista em psiquiatria, Leandro Lima. Eles destacaram a atenção que os profissionais da saúde devem dar para identificar se a realmente é algo em torno de uma intervenção da psiquiatria ou intervenção da saúde mental, já que, em alguns casos, é possível ter alterações no estado mental decorrentes de questões orgânicas.
Emergência psiquiátrica, conforme explicou Tainá Carvalho, é “uma condição que vai criar alterações no estado mental, que requer uma intervenção imediata por conta do risco que pode estar havendo tanto para o paciente, quanto para outras pessoas”, disse ela.
Para se ter uma ideia da importância de debater o tema, 10% dos atendimentos de urgência e emergência realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) são de saúde mental, a exemplo de quadros de agitação psicomotora e agressividade, comportamento suicida e automutilação, delirium, episódio psicótico, transtorno por uso de substância e transtornos ansiosos.
“A gente precisa entender que muitas vezes essa crise está associada à dificuldade de a pessoa conseguir passar por uma determinada situação. Ela não tem os recursos necessários, sejam materiais ou a nível psicossocial, e, naquele momento, é uma forma de resposta à situação que está vivenciando. Mas há situações em que essa desorganização, vamos dizer assim, pode ser motivada por questões fisiológicas e a gente deve ver cada uma delas’’, enfatizou Leandro.
A dinâmica do curso O manejo da Crise Psiquiátrica foi pensado para auxiliar como as equipes de saúde podem se preparar para cuidar de alguém em crise, em qualquer ambiente. “Porque uma crise em saúde mental não vai estar só em CAPS, em dispositivos de saúde mental. Pode acontecer em qualquer hospital, em qualquer lugar. Então é sobre como lidar com esses momentos de crise sem utilizar o aspecto punitivo da violência e utilizando o saber científico”, explicou a médica.
Ainda segundo ela, a família é um fator protetor muito importante nesse processo de atendimento e tratamento em saúde mental. “Quando a família se posiciona, percebendo mais, conseguindo colocar um olhar mais humanizado do que é possível, já ajuda muito. O que a família vai informar e a forma da família falar e abordar ajuda nesse atendimento”, reforçou Tainá.
Autismo em debate
Outro tema de saúde mental debatido neste domingo (20) foi o Transtorno do Espectro Autistas (TEA), pela mesa-redonda Os desafios de integrar o cuidado das pessoas com TEA nas redes de saúde, promovida entre os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e os Centros Especializados de Reabilitação (CERs).
De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados em março deste ano, a cada 36 crianças nascidas, uma tem diagnóstico de TEA até os oito anos de idade. Na Supervisão de Cuidados a Pessoas com Deficiência (Supe), da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), dos processos abertos administrativamente ou judicialmente requerendo atendimento a crianças, 200 são relacionados à TEA. No Caps, dos 792 prontuários ativos, dos quais 104 envolvem TEA.
O encontro reuniu profissionais que atuam em atividade de atenção a portadores do espectro autista e foi aberto à comunidade, debatendo ações e estratégias que contribuam para desconstruir a ideia de que autista é agressivo ou que deve viver isolado. “Autista não é agressivo. Se ele está agressivo, é porque não está conseguindo expressar. Ele está sentido igual a uma criança de um ano que faz birra. O autista precisa ser atendido em suas necessidades, ter apoio psicossocial e poder contar com uma rede de saúde mental”, disse Maria Luíza, terapeuta ocupacional do CAPSi Maceió.
Ela complementou que, muitas vezes, o diagnóstico de TEA “tranca a criança em uma imagem social que é muito rígida, esquecendo que nem todo grau de autismo é igual. Tem autistas com altas habilidades que outros não têm. Então, cada autista, seja um garoto, um adulto, um idoso, é diferente, assim como todos nós somos”, disse Luíza.
A formação da mesa contou com dois momentos: apresentação e debate. No primeiro, participaram Tereza Cristina Tenório, supervisora da Atenção Psicossocial de Alagoas; Ana Carolina Pires, supervisora da SUPE; e Raíssa Paz, gerente de Ações Estratégia da Sesau.
O segundo momento contou com as explanações de Alícia Teotônio, integrante da SUPE;; Maria Luísa Morais, terapeuta ocupacional do CAPSi Maceió; e Maria Alice Ataíde, gerente do Núcleo da Saúde Pestalozzi. A mediação foi feita por Fabiana Oliveira, coordenadora da Pestalozzi, em Maceió.