Artistas realizaram o espetáculo em homenagem aos poetas alagoanos Zé Paulo e Edvaldo Damião
Jamerson Soares – jornalista com fotos de Mitchel Leonardo
Os gritos da guitarra absurda da banda de Junior Almeida, cantor e compositor alagoano, ecoaram no auditório do Centro de Convenções. É que no último sábado (19), aconteceu o show Possibilidades Há, um musical poético em homenagem aos poetas Edvaldo Damião e Zé Paulo, com a participação do ator Chico de Assis.
No palco, sobre o tablado, o espetáculo tomou voo para o lado mais poético e intimista, com um cenário rústico e uma iluminação que também deram um tom de leveza aos textos interpretados por Chico. O ator parecia estar em um quarto de casa, sob o corpo em estado de boemia. Havia uma espécie de armário com espelho, um cabideiro abraçando lenços e chapéus.
A apresentação também teve a participação do baixista Fabinho Oliveira, o guitarrista Tony Augusto e o baterista Rudson França, que deixaram o espaço ainda mais receptivo. Chico, com alta carga dramática, interpretou os poemas compostos pelos homenageados intercalando com as mais de dez músicas cantadas por Almeida. Músicas como “Saudosa Maloca”, “Engano” e “Tim”, estavam no repertório do artista.
Durante o show, Junior Almeida comentou um pouco sobre a trajetória da amizade entre ele, Chico e os dois poetas. Ele também contou a história por trás da música Tim, que era o nome de uma paixão de Zé Paulo.
“Durante o processo dos ensaios para o show de hoje, lembrei que a gente tinha uma casinha coletiva na Garça Torta, há 40 anos atrás. Nessa época, Zé Paulo encontrou uma garota, se apaixonou, uma menina a linda que veio de Santa Catarina, e foi justamente por esse período que a gente estava produzindo a primeira versão do show. Eles se apaixonaram e foram embora pra Santa Catarina. Em dia de lua cheia, o Zé Paulo me apresentou uma música chamada Tim, Tim era o nome da garota”, relatou o cantor.
As composições e poemas abordaram diversos assuntos como o valor que o sertanejo tem, as belezas do sertão e de Alagoas, sobre as mulheres, o amor, a brevidade do tempo e a infância. Para Junior, foi uma felicidade poder voltar com esse trabalho após muitos anos, e ainda poder apresenta-lo em um evento literário.
“A gente sempre quis voltar com esse trabalho, e quando tomamos conhecimento da Bienal e recebemos o convite, foi perfeito porque acho que é o melhor lugar para relançar esse projeto, as poesias deles, a cidade, todo o clima. São dez dias onde a cidade se concentrou em vir a um lugar onde livros, pessoas, coisas interessantes. Acho que isso faz um bem imenso”, concluiu.
Segundo Chico de Assis, Zé Paulo mora atualmente em Pão de Açúcar e Edvaldo Damião já faleceu. Para o ator, a apresentação de hoje foi uma celebração aos seus amigos queridos. “Na época, o show foi apresentado no Teatro de Arena, no Teatro Deodoro, entre outros espaços. A gente revisita essa obra hoje, que ainda é bem atual. Os textos, os poemas, as músicas. E sim, levaremos adiante este show para outros lugares”, disse.
A cantora e enfermeira Lavynea Menezes estava na plateia admirando os artistas. Ela contou que ficou extremamente feliz em ter a oportunidade de ver artistas locais no palco da Bienal.
“Me sinto muito feliz e privilegiada pela oportunidade de assistir os artistas daqui. O show do Junior foi belíssimo, cheio de sensibilidade. Realmente é muito importante para a cena de Alagoas. E ele inspira outros artistas locais a fazerem esse trabalho e também a terem força de mostrarem seu trabalho autoral”, destacou a cantora.