Cordelistas mostraram força da poesia popular durante o evento
Materiais foram expostos no estande da Academia Alagoana de Literatura de Cordel
Graça Carvalho - jornalista / Jônatas Medeiros - fotógrafo
Em meio à diversidade de títulos que circularam durante os dez dias da 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, os cordéis expostos no estande da Academia Alagoana de Literatura de Cordel (AALC) chamaram a atenção dos visitantes. Atraída pela forma de apresentação, pelas xilogravuras, que ilustram os folhetos de cordel e pelo valor acessível – eles custavam de R$ 5,00 a R$ 8,00 – a estudante Cristina Mayra (17) adquiriu três para presentear os primos, do interior de Sergipe: “Muito importante a gente, que é jovem, conhecer esse universo popular tão rico. Devia haver uma Bienal só de cordel”, sugeriu.
Já o jornalista Ricardo Rodrigues, que também entrou no estande para prestigiar os autores cordelistas, falou sobre a importância da literatura de cordel como herança afetiva e cultural: “A literatura de cordel remonta à minha infância, nas feiras lá em Murici. A gente ouvia as emboladas e comprava aqueles livretos baratinhos cheios de imaginação. É muito positivo que Alagoas tenha uma academia dedicada exclusivamente a essa forma de cultura popular”, celebrou.
Um pouco de história
A Academia dos Cordelistas foi fundada durante a 8ª edição da Bienal de Alagoas, em 2017, pelas mãos dos cordelistas Ciro Veras, Alexandra Lacerda, Cícero Manoel, Cristóvão Augusto, Jorge Calheiros, Maria José de Oliveira, a "Mariquinha" , falecida em 2019, Manoel Apolônio e Jorge Calheiros, mestre do Patrimônio Vivo de Alagoas.
Atualmente, já são 60 integrantes, de todas as regiões do estado, da capital ao Alto Sertão e 15 deles participaram da edição 2025 da Bienal, com a apresentação de obras, poesias e conversas com o público sobre o papel do cordel na preservação da cultura popular.
Atualmente presidida por Diógenes Pereira, de Santana do Ipanema, a Academia continua promovendo atividades que vão desde palestras e encontros culturais até o incentivo a novos talentos, por meio do grupo “Talentos do Cordel”, que oferece oficinas e orientações para iniciantes.
Temas diversos
O cordelista Marcos Brandão, que era estreante no universo do cordel, quando da fundação da Academia, é um dos integrantes mais ativos. Natural de Rio Largo, mas residente já 50 anos em Maceió, ele trouxe para a Bienal cordéis de temáticas variadas, mas seu carro-chefe ainda é o A Natureza, escrito antes mesmo de ele ingressar na Academia: “A natureza agredida, vive pedindo socorro: ‘Não façam isso comigo, Pois desse jeito assim morro’. Tratem bem dos animais, inclusive do cachorro”, diz em um dos versos.
Diretamente de Inhapi, o cordelista Josias de Sousa resumiu a diversidade de temas trazidos pelos expositores. “Tem pra todo gosto, tem pra todo mundo. Romance, terror, histórias engraçadas, as do dia a dia, as clássicas e até religiosas. Tem cordel infantil e até o do pato”, citou o poeta popular, referindo-se ao cordel Os Patos na Bienal, que o cordelista Carlisson Bardo escreveu ali mesmo, nas bienal, ao observar “o peste de um pato, na cuca de muita gente”.
A professora Gorete Amorim, natural de Ribeirão (PE) e, há décadas, residente em Arapiraca (AL), trouxe biografias em cordel, temas sociais, como a violência contra a mulher, e cordéis direcionados à formação do público infantil. Pedagoga responsável pela formação de professores em Pedagogia e outras licenciaturas, ela coordena um projeto de extensão no campus da Ufal, em Arapiraca, que visa combater a defasagem de leitura entre crianças. Ela também integra uma iniciativa de popularização do cordel, com a distribuição, gratuita, nas escolas públicas de Arapiraca. “Setenta por cento da renda obtida a gente investe em reprodução de cordéis já lançados e 30%, na produção de novos cordéis”, contou.
Além desses, Ruy Rodrigues, cordelista cearense, radicado em Maceió, trouxe cordéis relacionados à cultura popular, à valorização do cordel,reflexões da vida, do cotidiano, da ética, da verdade e da justiça.
Reporter cordelista? Temos!
É com essas e outras iniciativas que o cordel segue atravessando gerações, estimulando quem continua firme, aos 100 anos de idade, encantando com seus versos, como no caso do cordelista Manuel Santos, de Palmeira dos Índios, que reside na Chã da Jaqueira, em Maceió. Os colegas cordelistas da Bienal lembram que ele continua escrevendo e participando das atividades literárias da Academia.
E a magia do cordel, de fato, inspira e atravessa gerações, mesmo quem não tem lá muito jeito para rimar - esta repórter – pode se arrisca a “cordelar”. Lá vai: “Acabou a Bienal. Só tem outra em dois anos. Bora, leitor, bora pra casa ler, que livro não é pato. Não serve só de enfeite. Dá prazer imediato!”
Sobre a Bienal
A 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas é realizada pela Universidade Federal de Alagoas e pelo governo de Alagoas, com correalização da Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes) e patrocínio do Senac e do Sebrae Alagoas.
Sob a curadoria do professor Eraldo Ferraz, diretor da Edufal, o maior evento cultural e literário do estado também tem como parceiros a plataforma de eventos Doity, a rede de Hotéis Ponta Verde, o Sesc, a Prefeitura de Maceió por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semed) e o Instituto Federal de Alagoas (Ifal), além das secretarias de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult), de Turismo (Setur) e de Comunicação (Secom) de Alagoas.
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