Cortejo marca encerramento da 11ª Bienal do Livro de Alagoas
Apresentação percorreu Centro de Convenções e finalizou a edição 2025 do evento
Roberto Amorim - jornalista / Jônatas Medeiros - fotógrafo
A força da resistência ancestral do sagrado solo do Quilombo dos Palmares ressurgiu na noite do último domingo (9) no ritual de encerramento da 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas. Na ocasião, os tambores africanos anunciaram a formação do cortejo que selava a edição 2025 do maior evento cultural e literário do estado como a mais democrática, diversa e inclusiva.
Nas últimas décadas, o lugar das pessoas pretas, pobres e de religiões de matriz africana era restrito às calçadas do Centro Cultural de Exposições Ruth Cardoso como vendedores informais, flanelinhas ou no trabalho de limpeza nos eventos no espaço que leva o nome da esposa de um ex-presidente da República marcado por adotar um política neoliberal. No entanto, com a 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas podemos dizer: nunca antes, em solo alagoano, o povo preto de axé tinha ocupado o lugar da intelectualidade tradicionalmente reservado à elite branca e economicamente dominante.
Durante dez dias, mais precisamente entre 31 de outubro e 9 de novembro esse povo silenciado e colocado à margem foi protagonista. As personalidades homenageadas da edição, as ialorixás Mãe Mirian de Nanã e Mãe Neide Oyá D'Oxum, e o babalorixá Pai Célio de Iemanjá, foram novamente laureados com uma nova homenagem: uma entrega de placas e falas de gratidão do reitor da Universidade Federal de Alagoas, Josealdo Tonholo, da vice-reitora Eliane Cavalcanti e do presidente da Fundepes, Edson Bento.
E, na sequência das homenagens, o emocionante cortejo reverberou esse grito secular de luta por reconhecimento e justiça social dos escravizados e seus descendentes que deram forma a um país chamado Brasil: “Essa Bienal quebrou, definitivamente, o paradigma ensinado nas escolas de que o berço da cultura ocidental é a Grécia e a Roma. Cientificamente já foi provado que a origem do ser humano é na África. A força do poder econômico das civilizações é que mudou essa narrativa. Mas estamos aqui, resistindo e exigindo nosso lugar em todas as dimensões da sociedade”, afirmou Pai Célio, mais uma vez emocionado e agradecido aos orixás. “É um momento histórico e é uma honra fazer parte dele”, completou.
Um encerramento histórico
Saído a partir da grande árvore Baobá montada na praça central do pavilhão do Centro de Convenções, próximo ao Quilombo Literário da Edufal, o cortejo, em louvor às forças sagradas na natureza, causaram um misto de emoções por onde passava. O empolgante ritmo dos tambores e berimbaus fez as pessoas moverem o corpo espontaneamente, enquanto o fascínio das roupas e acessórios tradicionais dos terreiros deslumbrou os olhos curiosos.
O corpo de dança africana impressionou pela sincronia dos movimentos, e os banhos de água de cheiro e arroz abençoaram a pequena multidão que assistia, hipnotizada, ao espetáculo de saudação e gratidão as divindades africanas... E isso rompeu fronteiras. Católica apostólica romana, a auxiliar de administração de empresas, Ana Margareth, 54 anos, assistiu a tudo com profunda admiração e respeito: “Não há como julgar e condenar uma fé tão bonita. É possível ver e sentir o quanto eles respeitam seus rituais e isso é muito lindo. Não é porque é diferente que é errado”, disse ela.
Vitalidade e emoção
Aos 91 anos e dona de uma impressionante vitalidade, lá estava Mãe Miriam mais uma vez à frente do cortejo, que arrastou centenas de pessoas, de religiões e idades diferentes numa grande celebração à harmonia e à paz.
“Eu só quero dizer uma coisa sobre essa festa tão bonita: ‘Deus é um só, o que muda são as formas de o cultuar’. Então, que esse Deus abençoe a todo mundo e que nos guie para momentos de harmonia, paz e respeito. Nós, povos pretos e do axé sofremos muito. Só queremos ser respeitados e valorizados em nossa fé, costumes e tradições”, concluiu Mãe Miriam.
Sobre a Bienal
A 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas é realizada pela Universidade Federal de Alagoas e pelo governo de Alagoas, com correalização da Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes) e patrocínio do Senac e do Sebrae Alagoas.
Sob a curadoria do professor Eraldo Ferraz, diretor da Edufal, o maior evento cultural e literário do estado também tem como parceiros a plataforma de eventos Doity, a rede de Hotéis Ponta Verde, o Sesc, a Prefeitura de Maceió por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semed) e o Instituto Federal de Alagoas (Ifal), além das secretarias de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult), de Turismo (Setur) e de Comunicação (Secom) de Alagoas.
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