
Homenageados da 11ª Bienal do Livro de Alagoas celebram escolha do tema
Mãe Neide Oya D’Oxum, Mãe Mirian e Pai Célio reforçam a importância sobre a memória da população negra
Maria Villanova - estudante de Jornalismo
Fotos - Renner Boldrino e Jônatas Medeiros
Ancestralidade, resistência e singularidade. Com o tema Brasil e África ligados culturalmente em seus Ritos e Raízes, a 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas resgata as cores, legados, símbolos e ritmos e faz um convite para a reflexão sobre o tema e sobre as atenções sobre a interculturalidade entre o povo africano e o Brasil.
Alagoas é berço de inúmeros quilombos, palcos de resistência e luta a favor da liberdade, símbolos de memórias de um período que não se pode e não se deve esquecer, apesar do insistente “branqueamento nacional”, que visa a apagar símbolos, nomes e momentos ligados à cultura africana e seus descendentes.
A terra dos Marechais é também a terra de Aqualtune, mulher guerreira e decidida, lidera o Quilombo de Palmares, o maior de todos, sucedida por Ganga Zumba e posteriormente por Zumbi, o nome mais ecoado quando se fala em liberdade, luta e resistência. Terra de seus descendentes, e de tantos outros Quilombolas que lutavam por respeito e dignidade. É a terra de Mãe Mirian, Pai Célio e Mãe Neide Oya D’Oxum, respectivamente Padrinho, Madrinha e Patronesse da edição 2025 da Bienal.
Mãe Mirian é uma das mais reconhecidas ialorixás do estado. Em 2012, ela representou as comunidades religiosas de matriz africana no pedido oficial de perdão realizado pelo governo estadual pela “Quebra de Xangô”, episódio ocorrido 100 anos antes e que consistiu na destruição das casas de culto afro-brasileiro de Maceió.
“Eu me sinto muito feliz, é um momento muito importante para mim, uma senhora de 91 anos, mãe, avó, bisavó, tataravó, sacerdotisa das religiões afrodescendentes do nosso Brasil. Agradeço o respeito que essas pessoas têm a mim e a minha religião”, comentou, emocionada.
Referência nos estudos sobre religiões de matizes africanas, festas, entidades e um dos maiores divulgadores científicos sobre a população negra e quilombola, o historiador, comendador, professor e pesquisador Babalorixá Pai Célio tem em suas vivências e estudos expertise para falar sobre a temática abordada este ano.
“É entender que a Universidade Federal de Alagoas está fazendo esse resgate histórico ligado à África, ligado às tradições de matriz africana, não só a religião, mas como tantas outras coisas que vai englobar a Bienal. Para mim, eu estou muito feliz, isso é de suma importância. A Bienal não é só para Maceió, para Alagoas, é para o mundo, e o mundo entender o reparo histórico que a Universidade está fazendo” contou Pai Célio.
A escolha da temática também é comemorada por Mãe Mirian: “Celebro o tema, importantíssimo. É o reconhecimento da situação do negro, onde há desrespeito às religiões, intolerâncias. Então, é um debate muito importante para o nosso Brasil e para a nossa Alagoas. Parabéns para a Bienal”.
Patronesse da edição, Mãe Neide Oya D’Oxum é uma das mais importantes figuras do estado, onde trabalha há anos no resgate das tradições quilombolas e afrodescendentes em geral, através de suas manifestações religiosas e vivências, sendo destaque em especial pela sua culinária, que rememora o sabor e cultura de seus ancestrais.
Escritora, na 10ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, realizada em 2023, Mãe Neide lançou o livro Wa Jeun: sabores ancestrais afro-indígenas em uma grande festa carregada de sentimentos, vibrações e respeito à cultura africana. Agora, retornando como uma das homenageadas, ela confessa que não esperava o convite para ser a patronesse da edição deste ano.
“Eu confesso que eu não esperava, apesar do sucesso que foi o meu livro, onde falo sobre cozinha preta. Digo que eu estou num momento de reconexão com meu ancestral e o convite é como se o meu ancestral estivesse vindo para cá agora. Felicidade, reencontro, renascimento, mais esperanças e abrindo mais oportunidades para o nosso povo, para a nossa história”, refletiu.
Exemplo para tantos, Mãe Neide também lançará seu segundo livro Diário de uma Mãe de Santo, onde se apresentará em sua essência, desnudando-se de conceitos e mostrando mais sobre sua realidade.
“Esse novo livro fala do dia a dia de uma mulher negra, mãe, uma mulher periférica, uma mulher dos enfrentamentos, com a intolerância, com o racismo, com o preconceito. Então, é uma Mãe de Santo sem maquiagem, porque muitas vezes as pessoas só vêem o nosso brilho, nossas roupas, mas não sabem como é nosso dia-a-dia. E muitas vezes somos invisíveis para a sociedade”, revelou.
Sobre a Bienal
A 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas é realizada pela Universidade Federal de Alagoas e pelo governo de Alagoas com patrocínio do Sebrae e apoio da Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes).
Sob a curadoria do professor Eraldo Ferraz, o maior evento cultural e literário do estado também tem como parceiros as secretarias de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult), de Turismo (Setur) e de Comunicação (Secom) de Alagoas.
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