Psicanalistas debatem raça, gênero e identitarismo social
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Psicanalistas debatem raça, gênero e identitarismo social

Participaram do evento os autores e intelectuais Christian Dunker, Raquel Barreto e Douglas Barros

Jamerson Soares - jornalista / Renner Boldrino - fotógrafo

A tarde do sábado (8) ficou um pouco maior durante a 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas com um encontro de grandes pensadores e intelectuais da área da psicanálise e da história brasileira. O identitarismo, a relação entre os muros sociais e a origem do Brasil, sob a ótica do luto, bem como a formação cultural do país, foram os grandes assuntos que atraíram a plateia presente na Sala Jatiúca. 

Participaram do evento os profissionais Christian Dunker, psicanalista e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP); a historiadora e curadora do Museu de Arte Moderna do Rio (MAM), Raquel Barreto; e o psicólogo, filósofo e ensaísta, Douglas Barros, autor do aclamado O que é identitarismo? (Boitempo, 2024) numa conversa mediada por Fellipe Ernesto Barros e Andréa Pacheco.

O encontro promoveu um arsenal de debates com referências afro-brasileiras, do movimento negro e lacaniano, lançando um olhar mais atento ao “Brasil profundo”, suas marcas do passado e presente. Em sua fala inicial, Douglas Barros comentou o processo de criação do livro, explicou detalhadamente e de forma coerente o significado de identitarismo, citando outros autores como Lacan e fazendo relações sobre o colonialismo e o recente massacre no Complexo da Penha, no Rio de Janeiro, que matou 121 pessoas.

“Essas pessoas são arrancadas dos seus territórios, as invalidando e as tirando dos grupos humanos que têm a riqueza das diferenças. Quem é o identitário da história, então? O resultado de uma construção de um imaginário e produção de um inconsciente vai naturalizando os espaços de exclusão”, disse ele.

Encontro ensaístico

A mesa-redonda - ou pode ser chamada de encontro ensaístico, já que era perceptível que a confluência de ideias, autores e citações acadêmicas se entrecruzavam na conversa dos convidados – tornou-se um exemplo de que os assuntos, apesar de profundos e aparentemente confundíveis, se complementavam com excelência.

A exemplo de Christian Dunken que falou sobre os resquícios da Guerra de Canudos e relacionou o resultado desse momento da história do país com a estruturação da primeira favela brasileira. “A primeira favela foi formada por militares que foram para Canudos com a promessa de que voltariam para seu estado com um pedaço de terra. Porém, quando voltaram, foram enganados pelo Estado e levados para o morro”, explicou.

Dunken também falou sobre sua vida, os estudos fora do país, sua relação com Lacan e a importância da mediação entre universidade e sociedade civil. Ele refletiu sobre o seu livro apontando a simbologia do condomínio que, para o autor, é algo além do material e que divide a humanidade. Após a fala, o psicanalista agradeceu o convite à Bienal.

“Foi um encontro inesperado com Raquel, com Douglas, em que a gente pôde debater transversalmente temas presentes e o letramento, o universo brasileiro contemporâneo, foi uma conversa realmente muito pungente, muito forte, muito agradável. Vou lembrar com uma boa recordação aqui desse nosso encontro”, declarou.

Já Raquel Barreto citou a autora e ativista negra brasileira, Lélia Gonzalez, referência nos estudos sobre raça, gênero e classe no país. Ela também falou sobre a trajetória de vida dela e da autora, agradeceu à Bienal e refletiu sobre a relação da linguagem com as etnias do Brasil.

Discussões

Logo depois da fala dos convidados, foi aberto um momento de perguntas e discussões do público. Na ocasião, uma das pessoas presentes refletiu sobre a ideia de condomínios e o crime ambiental que afetou bairros de Maceió. Em um ato de protesto junto à visitante, a plateia reagiu batendo diversas palmas.

Uma das pessoas foi Vanessa Ferri, psicóloga e professora universitária que mora na capital alagoana. Para ela, o encontro foi importante porque mobilizou a psicologia e a psicanálise maceioense.

“Acho que a junção, no final das contas, das duas atividades, foi perfeita, porque juntou a ideia do Douglas, do identitarismo, com a perspectiva do Christian Dunker, dessa reflexão sobre os condomínios em que nós vivemos e que nós estruturamos a nossa sociedade. Nesse momento era o que Maceió estava precisando para refazer, repensar caminhos pra atuação profissional”, disse a psicóloga.

Sobre a Bienal

A 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas é realizada pela Universidade Federal de Alagoas e pelo governo de Alagoas, com correalização da Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes) e patrocínio do Senac e do Sebrae Alagoas.

Sob a curadoria do professor Eraldo Ferraz, diretor da Edufal, o maior evento cultural e literário do estado também tem como parceiros a plataforma de eventos Doity, a rede de Hotéis Ponta Verde, o Sesc, a Prefeitura de Maceió por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semed) e o Instituto Federal de Alagoas (Ifal), além das secretarias de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult), de Turismo (Setur) e de Comunicação (Secom) de Alagoas.

Acompanhe as novidades da Bienal 2025 por meio do site oficial e também pelas redes sociais com o perfil @‌bienaldealagoas no InstagramThreads Facebook. E para ver mais fotos sobre a cobertura da Bienal, acesse nosso Flickr e confira todos os detalhes do evento.

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