Kleiton Ferreira explica técnicas usadas em audiências
Usando o riso e a linguagem do dia a dia das pessoas, magistrado contou histórias de audiências e lançou livro durante evento
Kamylla Lima – jornalista / Jônatas Medeiros – fotógrafo
Espelhamento. A técnica de se conectar com as pessoas na mesma linguagem e gestos. Essa é uma das estratégias adotadas por Kleiton Ferreira, juiz federal natural de Arapiraca, que faz sucesso nas redes sociais postando trechos de audiências reais. Na noite desta quarta-feira (5), durante a 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas, o magistrado lançou o livro Crônicas de um Mentiroso – Era uma vez no Nordeste e conversou com fãs na Sala Ipioca, no Centro de Convenções.
“A senhora tem ‘adevogado’?”, brincou o juiz, arrancando risadas do público. Segundo ele, a expressão é usada para quebrar o gelo nas audiências e aproximar as pessoas. “Quem chega tenso, com medo, já se sente mais à vontade. Ali somos apenas duas pessoas conversando”, salientou.
Ferreira explicou que o fórum é um ambiente naturalmente formal e que isso pode causar distanciamento nas pessoas mais simples, especialmente nas audiências sobre aposentadoria. “Quando a pessoa entra ali, ela está muito nervosa. O cérebro entende aquilo como uma ameaça, como se ela estivesse numa selva diante de um predador. Então o corpo libera cortisol, o hormônio do estresse”, disse. “O riso é o que ajuda a reduzir esse nível de tensão. A partir do momento em que a pessoa sorri, ela se acalma e começa a falar com mais naturalidade.”
Antes mesmo de ser juiz, Kleiton já se considerava escritor. Ele contou que a paixão por histórias o acompanha desde jovem e que a escrita foi o ponto de partida para sua forma humanizada de fazer Justiça. “Eu comecei a escrever antes de ser juiz. Gosto de ouvir as histórias das pessoas, e isso me ajuda a entender melhor o que elas vivem. Quando a gente escuta de verdade, a pessoa se abre, confia, e a audiência deixa de ser um interrogatório para virar uma conversa”, afirmou.
Crônicas de um mentiroso
O livro lançado por Ferreira, foi inspirado em uma obra de Umberto Eco, e é o primeiro de uma saga que percorre o Nordeste entre o início do século 20 até a redemocratização do país, mesclando ficção e fatos históricos.
“A história acompanha um personagem que vive altos e baixos, tenta se reconciliar com a filha e redescobrir a própria verdade. É um romance de amor, de luta e de redenção, com um pano de fundo histórico que vai da Revolução de 30 à redemocratização de 1980”, explicou.
Com mais de 2 milhões de seguidores no Instagram, o magistrado é hoje um dos juízes mais “seguidos” do Brasil. Nas redes, ele compartilha momentos das audiências, bastidores do trabalho e reflexões sobre empatia e humor.
“As pessoas têm medo da Justiça. Às vezes preferem perder o benefício do que encarar o fórum. Então, se eu posso transformar aquele momento num encontro mais humano, é isso que eu vou fazer”, resumiu. “O humor é uma forma de ensinar e, ao mesmo tempo, acolher. No fim das contas, todo mundo só quer ser ouvido.”
Sobre a Bienal
A 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas é realizada pela Universidade Federal de Alagoas e pelo governo de Alagoas, com correalização da Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes) e patrocínio do Senac e do Sebrae Alagoas.
Sob a curadoria do professor Eraldo Ferraz, diretor da Edufal, o maior evento cultural e literário do estado também tem como parceiros a plataforma de eventos Doity, a rede de Hotéis Ponta Verde, o Sesc, a Prefeitura de Maceió por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semed) e o Instituto Federal de Alagoas (Ifal), além das secretarias de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult), de Turismo (Setur) e de Comunicação (Secom) de Alagoas.
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