Patrimônio Vivo de Alagoas, Mãe Neide terá obra lançada pela Imprensa Oficial
Ancestralidade afro-brasileira e vida religiosa da ialorixá permeiam livro intitulado “Diário de uma Mãe de Santo”
Ascom Bienal com Bruno Soriano - Ascom Imprensa Oficial
A 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas se aproxima e, com ela, a expectativa acerca das atrações já confirmadas. E a patronesse do maior evento literário e cultural do estado vai lançar mais um livro, o segundo pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos, que segue incentivando os escritores locais e, dessa forma, fomentando a produção literária. Depois de escrever Wa Jeun: sabores ancestrais afro-indígenas, Maria Neide Martins, a Mãe Neide, prepara-se para publicar Diário de uma Mãe de Santo, uma retrospectiva, não só de sua caminhada espiritual, mas também de experiências cotidianas que marcaram, até aqui, sua rica trajetória.
“O meu sentimento é de gratidão a todos da Imprensa Oficial, porque sei que a nossa cultura está sendo valorizada. Aprendi muito com meu primeiro livro, mas também ensinei um pouco. E eu não imaginava um alcance tão grande. Achava que ninguém teria interesse em conhecer minhas receitas, em saber um pouco mais sobre a culinária ancestral, de terreiro. Mas eu me surpreendi positivamente ao ver exemplares do meu livro nas escolas e até fora do estado, o que me enche de orgulho e satisfação”, recordou a ialorixá.
Desta feita, Mãe Neide Oyá D’Oxum promete reunir todo o seu legado não apenas enquanto sacerdotisa do Candomblé, mas também aspectos da cultura afro-brasileira e sua contribuição – como renomada chefe de cozinha – à culinária afro-quilombola. Por isso, segundo ela, Diário de uma Mãe de Santo surgiu do desejo de se eternizar um propósito de vida: o de servir ao próximo.
“Eu não quero levar comigo, para o túmulo, o pouco que sei dessa história de resistência. É preciso deixar um legado para nossos filhos. Eu tenho a honra e o dever de falar sobre nossos ancestrais, porque sei da minha responsabilidade. Sei que represento não só a mulher negra, a mulher indígena, mas também todas as mulheres guerreiras dessa terra, o que me envaidece bastante. Quero que todas elas também se vejam neste livro, porque viver é um grande desafio, sobretudo quando se é preto, que não mais pode ser visto como a escória da sociedade. Quero, por fim, que todos passem a enxergar Alagoas não apenas como a terra dos Marechais, mas também, e principalmente, como a terra de Zumbi dos Palmares”, revelou a chefe de cozinha.
“Minha fé é a minha fortaleza”
Nascida em Arapiraca, Mãe Neide diz ter se inspirado em duas lideranças quilombolas: Aqualtune, que comandou um dos principais assentamentos do Quilombo dos Palmares; e Dandara, que foi esposa de Zumbi, com quem teve três filhos, e também combateu o sistema colonial escravista.
“Meu novo livro rega essa semente, a semente da liberdade que foi plantada por nossos antepassados. Mas escrevo, ainda, sobre o dia a dia de uma mãe de santo, de uma mulher periférica que também se dedica aos filhos ‘do coração’, aos filhos que sofrem preconceito devido à orientação sexual, por exemplo. Mas o livro não tem uma narrativa melancólica. É claro que não temos uma varinha de condão, que tudo resolve. Mas mostro que minha fé é a minha fortaleza, porque é com ela que venço minhas dores. E quando estou cansada, o meu turbante é quem me carrega”, emendou Mãe Neide, Doutora Honoris Causa da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal).
Para a coordenadora editorial da Imprensa Oficial Graciliano Ramos, a nova publicação de Mãe Neide vai abrilhantar ainda mais o catálogo da editora. “Fomos presenteados com mais essa oportunidade, já que a nossa editora foi a primeira a publicar um livro escrito por uma mulher quilombola, o que só reforça a importância da obra assinada por Mãe Neide, Patrimônio Vivo de Alagoas”, afirmou a também jornalista Clarice Maia.
Sobre a Bienal
A 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas é realizada pela Universidade Federal de Alagoas e pelo governo de Alagoas, com correalização da Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes) e patrocínio do Senac e do Sebrae Alagoas.
Sob a curadoria do professor Eraldo Ferraz, diretor da Edufal, o maior evento cultural e literário do estado também tem como parceiros a plataforma de eventos Doity, a rede de Hotéis Ponta Verde, o Sesc, a Prefeitura de Maceió e o Instituto Federal de Alagoas (Ifal), além das secretarias de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult), de Turismo (Setur) e de Comunicação (Secom) de Alagoas.
Acompanhe as novidades da Bienal 2025 e outas informações da programação por meio do site oficial bienal.ufal.br/2025 e também pelas redes sociais com o perfil @bienaldealagoas no Instagram, Threads e Facebook.