'Tarde de leitura trans' abre espaço para inclusão e representatividade
Atividade marcou o lançamento das obras de autores e autoras trans durante a 11ª Bienal de Alagoas
Roberto Amorim - jornalista / Adriano Arantos - fotógrafo
“Leia com calma minhas cicatrizes”. “Álcool e solidão no desjejum”. “Minha poesia é tudo o que transbordo”. Esses foram alguns dos versos que povoaram a "Tarde da literatura trans", nesta sexta-feira (7), na 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas.
Foram lançados três livros de poesia e uma biografia durante a atividade. São escritas de corpos trans que rompem o silêncio e os muros do preconceito através de palavras poéticas e narrativas desbravadoras.
Poeta, pesquisadora e realizadora audiovisual, Céuva apresentou ao público os 17 poemas reunidos no livro Mesmo rompida, quero como nunca quis ser travesti, pela Demônia, editora independente que publica poesia, ensaios e outros textos de autores considerados "dissidentes", como pessoas trans e mulheres cis.
“Essa obra nasceu de um período em que eu estava perdida artisticamente. Estava me sentindo torta, quebrada. Eu precisava reafirmar minha existência artística em Alagoas”, disse Céuva. “São poemas antigos que estavam aguardados e outros nascidos logo após meu processo de transição. Sou completamente apaixonada por esse livro”, disse a autora.
Interpretações e interações
Cauê Assis apresentou a obra Transe... (Caravana Editora) depois de cinco anos de maturação. De acordo com ele, os poemas convidam a uma leitura de várias interpretações e interações.
“Cada leitor pode compor o seu próprio significado já a partir do próprio título do livro”, afirmou Cauê, que é vice-presidente da Associação Cultural de Travestis e Transsexuais de Alagoas (ACTTRANS).
Ele ressaltou a importância da participação de corpos trans em eventos como a Bienal para mostrar a qualidade dos seus escritos a partir de olhares e perspectivas diferenciadas.
“Não é uma ação isolada e individual, mas várias pessoas trans lançando suas obras. É um movimento em constante crescimento”, concluiu o autor.
Autora de Segunda Pele, Isis Florescer foi a primeira mulher trans alagoana a lançar um livro, fruto do edital de Cultura Aldir Blanc.
“Meus versos estão carregados das particularidades que compõem a alma humana, questionando e provocando os lugares estabelecidos para as vidas trans”, afirmou Isis, que também é atriz licenciada pela Universidade Federal de Alagoas.
No gênero prosa, Suhan Torres, mulher trans alagoana de 74 anos, lançou uma biografia que leva seu nome (A vida e obra de Suhan Torres).
“Nesse livro estão todas as fases da minha vida, que foram entrelaçadas com a arte. A arte foi a minha grande salvação, a minha grande terapia para enfrentar décadas de preconceito”, contou Suhan, que é especialista em dança cigana e pintora.
Sobre a Bienal
A 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas é realizada pela Universidade Federal de Alagoas e pelo governo de Alagoas, com correalização da Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes) e patrocínio do Senac e do Sebrae Alagoas.
Sob a curadoria do professor Eraldo Ferraz, diretor da Edufal, o maior evento cultural e literário do estado também tem como parceiros a plataforma de eventos Doity, a rede de Hotéis Ponta Verde, o Sesc, a Prefeitura de Maceió por meio da Secretaria Municipal de Educação (Semed) e o Instituto Federal de Alagoas (Ifal), além das secretarias de Estado da Cultura e Economia Criativa (Secult), de Turismo (Setur) e de Comunicação (Secom) de Alagoas.
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